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Coluna do Aldir Júnior – O Calcio como não se via

Por: Aldir Junior
Direto da Redação
Conceição do Macabú/RJ





O declínio do futebol italiano como um todo nos últimos anos é fato. Não apenas da seleção italiano, que quando foi campeã do mundo em 2006 com todos os jogadores atuando no país que mudou bastante, mas o futebol na Itália tem muito de Brasil em vários aspectos.

1 – O êxodo dos jogadores italianos para outras ligas cada vez maior é uma dessas questões. Você se lembra desse time: Buffon, Zambrotta, Cannavaro e Grosso; Camoranesi, Gattuso, Pirlo , Perrotta e Totti; Toni. Sim, o time italiano campeão do mundo que tinha todos os jogadores, incluindo os reservas, que jogavam no Campeonato Italiano, logo após o término do mundial, por tentadores ofertas e pela falta de estrutura financeira dos clubes da Itália em segurar seus jogadores, um a um, muitos deles deixaram o seu país de origem para jogar em outros campeonatos.

2 – Com a saída dos jogadores italianos do campeonato local, os times se viram obrigados a encontrar uma saída em jogadores estrangeiros e nas categorias de base, quem tinha mais recurso conseguiu se sair bem, como a Inter, que rotineiramente entra em campo sem nenhum jogador italiano, mas os clubes menores sem poder de investimento tiveram que apostar em jogadores mais fracos, o que fez o nível técnico do campeonato cair.

3 – Outra questão, que começei a abordar na última questão é a estrutura financeira dos clubes, que se veem muitas vezes obrigados a negociarem seus principais jogadores por que muitas das vezes os times estão envoltos por dívidas sem fim que causa a primeira questão, a venda de jogadores importantes para tentar sanar as dívidas do clube, foi assim que aconteceu com o Milan, que vendeu seu maior astro, o brasileiro Kaká, em sua melhor forma, para o Real Madrid pela bagatela de 67 milhões de Euros. O Milan endividado foi obrigado a vender Kaká para ajudar seu patrono a não quebrar com o time.

4 – A 3ª questão está intimamente ligada a 2ª, que são os donos perpétuos dos times na Itália. Não são poucos os times na velha bota que se tornaram propriedades privadas de uma pessoa ou de uma família, o maior exemplo disso tudo é o Milan, que tem como dono o magnata e 1º ministro da Itália, Silvio Berlusconi, desde 1986.

Aqui no Brasil tinhamos muitos presidentes de clubes que se acomodaram no poder e pareciam que nunca iam sair de lá mais, foi assim no Corinthians e Vasco, por exemplo, que tiveram como destino o rebaixamento no Campeonato Brasileiro e por fim a saída desses presidentes que se achavam donos dos clubes, mas na Itália é parecido e diferente ao mesmo tempo, não existem presidentes na maioria dos clubes, e donos mesmo. Se por um período de tempo com a mesma pessoa no pode aconteceu o que aconteceu com Corinthians e Vasco, imagina o que acontece com um clube com um dono de fato. Se o time não tem uma estrutura mais avançada acontece o que aconteceu com o Messina e o Treviso, que há pouco tempo estavam na Série A do Calcio, e decretaram a falência por causa das dívidas de seus donos. O Messina conseguiu ser comprado por um novo magnata e voltou ao futebol jogando pela 5ª divisão italiana.

5 – Junto com os perpétuos donos de times vem a corupção que muitos deles trazem aos clubes, um dos casos mais famosos foi o escândalo em 2006, em que diretores da Juventus, Lazio, Fiorentina e Milan mantinham conversas com o responsável pelas escalas de arbitragem sobre os árbitros que deveriam apitar os jogos desses clubes. O escândalo terminou com a renúncia de todos os diretores da Juventus, afastamentos dos diretores da comissão de arbitragem e da Federação Italiana de Futebol, além do rebaixamento de Juventus, Lazio e Fiorentina, que começaram a Série B com pontuação negativa, e o Milan, que não foi rebaixado, mas teve que começar a Série A também com pontuação negativa e sem poder participar da Champions League. A Juventus ainda teve os títulos da temporada 2004/05 3 2005/06 revogados, o último dado a Inter de Milão.

6 – A Itália é muito parecida com o Brasil em muitos aspectos, e outro aspectos que somos parecidos é na estrutura de estádios. Durante a ditadura militar no Brasil foram construídos inúmeros estádios públicos gigantescos Brasil afora, foi assim que surgiu o Mineirão, Castelão, Fonte Nova, Morenão, entre outros “ãos” por aí, e foi assim também na Itália. Durante o período de governo do fascista Alberto Mussolini, a política de obras constituiu a construção de diversos estádios públicos pela Itália, como o San Siro, Ennio Tardini, Renato Dall’ara, Artemio Francchi, Luiggi Ferraris, entre tantos outros. Com essa política de estádios públicos, os clubes das cidades desses estádios e outros mais não tem como fazer com que o estádio seja rentável a ele, com uma estrutura prórpia do clube de marketing e comercial.

7 – A soma de todos esses fatores é o retrato do futebol italiano hoje, um futebol decadente, com estádios defasados, com média de pública cada vez menor, medo da violência no entorno dos estádios, nível técnico menor e jogos cada vez piores são o resultado disso tudo. A UEFA estuda o caso de tirar uma vaga que a Itália tem direito para a Champions League e dá-la a Alemanha, que ao contrário da Itália, tem um campeonato cada vez mais crescente.
Com tudo isso posto, a Inter de Milão vem dominando o cenário do futebol italiano desde o escândalo de 2005 no futebol italiano. O clube de Milão vem ganhando os campeonatos com grande margem de folga e sem sustos de seus adversários, mas nessa temporada a Inter estranhamente vem tropeçando mais, Milan e Roma, principalmente a Roma vem em ascenção, curiosamente alguns jogadores italianos que saíram do país ao final da Copa do Mundo de 2006 estão voltando a Itália, com um nível um pouco melhor o campeonato se torna emocionante na reta final dessa temporada. Seria o ressurgimento do Calcio ou uma temporada atípica?

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